domingo, 29 de junho de 2014

Cheio de Charme (This Charming Man) - Marian Keyes

Já li várias livros da Marian Keyes, autora irlandesa conhecida principalmente pelos seus livros Melancia, Sushi e Férias!, e achei esse particularmente diferente. Muitos aspectos são divergentes aos trabalhos anteriores da autora, e vou explicar um por um aqui.. Vamos lá!


 História: O livro conta a história da reação de quatro mulheres à notícia do casamento do charmoso e popular político Irlandês, Paddy de Courcy. Essa história é contada sobre o ponto de vista de cada uma das personagens, o que, para mim, é um aspecto negativo do livro. Já comentei aqui no Ler ou não ler? que esta forma de se contar uma história me incomoda um pouco... Você começa a se identificar com uma personagem, está lendo super empolgada e..... pum... tudo muda e entra uma personagem nova. Esse foi um dos motivos de eu ter demorado uns 3 anos para ler o livro (esse, e o fato de eu ter comprado a versão original, em inglês, com gírias irlandesas intermináveis, o que me fez colocar todos os outros livros da fila na frente dele). Para que vocês possam entender sobre o que se trata o livro, é necessário conhecer cada uma das personagens, começando pela Alicia Thornton, ou Alicia Cara de Cavalo, que é a noiva de Paddy de Courcy. Ela aparece pouquíssimas vezes no livro, deixando a maior parte da história para ser contada pelas outras 3 personagens. Minha impressão dela: Menina feiosa e apagadinha na adolescência que fica rica e fina quando adulta, e passa todo tempo tentando provar alguma coisa a alguém. Chata. A próxima personagem, que você deve conhecer é a Marnie Hunter, que foi namorada de Paddy na adolescência. Marnie sempre foi uma garota diferente, que via e sentia o mundo de sua própria forma. Depois do término com o namorado, sua vida nunca mais foi a mesma e, ainda depois de casada e sendo mãe de duas filhas, ela sofre com os traumas deixados pelo tal político em seu passado. Minha impressão dela: Bem, Marnie é aquele tipo de pessoa que tem tudo para ser feliz, mas se deixa dominar pelo alcoolismo. Seus flash backs do passado me mostraram uma pessoa completamente neurótica E submissa, no pior sentido da palavra. Sei que estes são problemas bem atuais e recorrentes em muitas mulheres de todo o mundo, mas me peguei inúmeras vezes resmungando: "Nãaao! Deixa de ser idiota! Aceita logo ir no A.A.! Aceita que você está doente!". Na verdade, pensando agora, acho que gostei dela porque adoro personagens que me fazem falar sozinha, que nem minha avó quando vê novela.
Grace Gildee é jornalista e irmã gêmea de Marnie. Ela tenta conciliar o trabalho e seu "casamento" com a tarefa de deixar a irmã longe de bebidas alcoólicas. Pode ser descrita como o total oposto de Marnie: forte, independente e bem sucessida. Entretanto, nutre um rancor muito grande por Paddy de Cource, que se mostra ser muito mais intenso com o aproximar do fim do livro. Minha impressão dela: Amei! O relacionamento de Grace com o também jornalista Damien é lindo... Compreensão, amor e companheirismo sem mi mi mi. Ela é prática, nada fresca, e é de uma cumplicidade com a irmã que chega a dar gosto! A descreveria como o retrato da mulher do séculos XXI. Me identifiquei bastante, inclusive... :D. Por último, mas não menos importante, temos a stylist Lola Daly, namorada de Paddy de Courcy que fica completamente devastada com a notícia do casamento do amor da sua vida (com alguém que não é ela!). A stylist não achava estranho nunca ter sido apresentada aos amigos e familiares de Paddy, nem de permanecer discreta em relação ao namoro (Sabe de nada, inocente!). Afinal, ele é um político charmoso que vive saindo em revistas de fofoca, certo? Acontece que uma dessas revistas revelou a grande notícia: seu namorado iria se casar com outra mulher! Lola fica completamente arrasada e, para não perder todos os seus clientes (pois só estava dando bola fora), resolve passar uma temporada na casa de praia da família de sua amiga em County Clare. Lá, vive uma rotina calma, e passa a abrigar homens que gostam de se vestirem como mulheres (crossdressers) toda sexta. Minha impressão dela: Ainda não decidi se gostei mais dela ou de Grace. Ela é tão divertida que, mesmo estando na fossa grande parte do livro, te prende e te faz rir. O fato de QUERER melhorar e voltar a ter uma vida normal é o que a diferencia de Marnie. Além do mais, Lola tem amigos engraçadíssimos. :D
Bem, ao final do livro (spoiler alert!) descobrimos que elas são ligadas por um mesmo fato: todas foram abusadas por Paddy de Courcy, seja por agressão física ou sexual.

Capa: Eu particularmente gostei mais da capa da versão em português (acima) do que a da versão em inglês (ao lado). Ela é bem mais colorida, e segue bem o padrão dos outros livros da autora.

Personagens: No geral, gostei. As principais já foram descritas ali em cima, mas os secundários também são bem interessantes. A família de Marnie e Grace, por exemplo, é extremamente peculiar.

Narrativa: A forma com que o livro é organizado, como eu já comentei, não me agradou. Entretanto, ele é super bem escrito, como todos os livros da Marian que já li até agora.

Opinião geral: O livro não é excelente, nem muito bom, nem ótimo, mas é bom. Comecei este post dizendo que achei a história bem diferente de tudo que já li da Marian, e agora digo o porquê: Primeiro, a organização da narrativa. Ok, já comentado. Segundo e o que mais chamou atenção, a história é extremamente dramática. Em apenas um livro a autora aborda coisas como alcoolismo, violência doméstica, estupro, câncer, depressão com direito a tendências suicidas, crossdressers... tudo polêmico demais pra ser colocado ao mesmo tempo, na minha opinião.

Indicaria para alguém? Acho que se me perguntassem "Quero comprar um livro. O que você me indica?", eu indicaria muitos outros antes desse. A não ser se a pessoa em si estivesse vivendo alguma das polêmicas citadas acima... aí sim.

"(...) Na verdade, está óbvio para mim agora que, desde o início, o sexo com Patty tinha sido doente e estranho. E eu que pensei que ser levada a um sex shop no primeiro encontro fosse erótico! Agora eu vejo que era um teste. Ele estava verificando o quanto eu aguentaria. E ele decidiu que eu aguentaria qualquer coisa." (Traduzido do inglês)

Em homenagem ao livro, aí vai uma musiquinha de mesmo nome que o objeto deste post, This Charming Man, by the Smiths! Até a próxima, pessoal!